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6.18 Explorando o Impacto da Desigualdade Social

Este círculo oferece uma análise profunda das consequências da desigualdade social através da História de Tommy, uma narrativa catalisadora sobre saúde e acesso a recursos. Utilizando reflexão guiada e escrita em diário, os participantes exploram as conexões entre desigualdade social e resultados negativos na vida das pessoas, examinando os efeitos cumulativos e frequentemente invisíveis das disparidades sociais. O processo incorpora diálogo em camadas e análise sistêmica para desenvolver consciência sobre responsabilidades coletivas.

⏱️90 minutos
👥10-20 pessoas

📦Materiais Necessários

Objeto da palavra, cópias da "História de Tommy", diário/caderno

☑️Objetivo

Entender a conexão entre desigualdade social e resultados negativos nas vidas das pessoas, como saúde fraca; conscientizar os participantes a respeito dos efeitos cumulativos e, muitas vezes, ocultos do impacto da desigualdade social.

🔔Abertura

Abertura do Círculo

Dicas para o Facilitador:

Acomode a todos em um círculo de cadeiras, sem nenhum outro móvel. Este círculo é para grupos menores (8-10 pessoas) para criar intimidade.

Faça uma pausa, respire e escute o som do sino.

Relembre aos participantes a respeito dos valores e as diretrizes que são importantes para o Círculo.

🤝Check-in

Check-in: Sentimentos Físicos, Mentais e Emocionais

Dicas para o Facilitador:

Passe o objeto da palavra e permita que cada participante compartilhe como está se sentindo em todas as dimensões.

Como você está se sentindo hoje: fisicamente, emocionalmente e espiritualmente?

⭐Atividade Principal 1

Ler a "História de Tommy" e refletir sobre por que ele morreu

Dicas para o Facilitador:

Esta atividade foi adaptada de "Tommy's Story: Understanding the Roots of Violence (A História de Tommy: Entendendo as Raízes da Violência)" de Mariame Kaba que, por sua vez, se baseou no trabalho da Health Organizing through Popular Education (H.O.P.E.).

ATIVIDADE PRINCIPAL: Ler a "História de Tommy" e refletir sobre por que ele morreu

Distribua cópias da "História de Tommy". O facilitador lê em voz alta ou o grupo lê junto em uma rodada.

Peça aos participantes que respondam a seguinte questão em seus diários: Quem é responsável pela morte de Tommy?

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A História de Tommy
Entendendo as Raízes da Violência

Esta é a história de um menininho chamado Tommy, que morreu repentinamente aos 9 anos de idade de um ataque de asma. Ele estava brincando no pátio dos fundos da casa quando o ataque aconteceu de maneira rápida e agressiva. Embora ele estivesse com um resfriado fraco nos últimos dias e tivesse sentido que um ataque poderia estar por acontecer, ele não vinha prestando muita atenção ao leve chiado no peito. Ele tentou ignorar o chiado porque não queria chatear seus pais mais ainda. As coisas andavam tão tensas na casa, com tanta gritaria, que ele preferia ficar fora do caminho. Parecia que as brigas só deixavam seu chiado pior ainda.

Tommy poderia dizer que todos os problemas começaram quando seu pai foi demitido do emprego. O pai era um metalúrgico e trabalhava para uma empresa fabricante de automóveis. Às vezes ele e o pai se debruçavam na passarela para pedestres na rodovia e ficavam olhando os carros passarem em alta velocidade por baixo de onde estavam. O pai contava vantagens sobre os modelos de carros que ele havia ajudado a fabricar. Tommy sentia orgulho dos braços musculosos e das costas fortes que moldavam aqueles carros esportivos e as vans. Ele nunca pensou sobre a poluição sendo lançada no ar pelos canos de descarga desses carros. A mãe de Tommy era cabeleireira e trabalhava em um salão de beleza perto de casa; ela frequentava a universidade local um período do dia. Ela estava estudando para formar-se em administração e tinha a esperança de algum dia abrir seu próprio negócio. Tommy sentia muito orgulho de sua mãe por ela estar se dedicando tanto para se formar na universidade.

Mas aí o fabricante de automóveis resolveu reduzir o tamanho da empresa e demitiu alguns milhares de trabalhadores em sua cidade. A empresa resolveu fabricar esses carros no México, onde a mão de obra era mais barata e as restrições ambientais eram menos rígidas. Os operários da fábrica se enfureceram com o governo local por não oferecer mais incentivos para manter os empregos na região. O pai de Tommy ficou desapontado com a liderança do sindicato que disse que eles haviam feito tudo que podiam para evitar as demissões.

De repente o salário do pai de Tommy, que era de US$15,65 por hora, sumiu. Seu plano de saúde, de aposentadoria e outros benefícios também se foram. O dinheiro da indenização e do seguro-desemprego mantiveram a família por um tempo, enquanto o Sr. J procurava outro emprego. Porém, o que ele ficou sabendo foi que, apesar de sua boa saúde e um currículo de trabalho excelente, ele tinha poucas habilidades para o mercado atual, e outro emprego na indústria estava difícil de conseguir. Só com o diploma do Ensino Médio, ele estava excluído das oportunidades de emprego em qualquer área técnica. Ele pensou em se inscrever em um programa de treinamento, mas ele não tinha condições de pagar as mensalidades, e agora ele precisava do dinheiro para pagar as contas.

A mãe diminuiu as cadeiras na universidade, a fim de trabalhar mais horas no salão de beleza. O Sr. J começou a trabalhar em dois empregos – os dois com salário baixo, os dois praticamente sem benefícios. De manhã cedo e à tardinha ele era motorista de ônibus escolar. US$35,00 por dia, sem benefícios. Entre as rotas de ônibus, ele trabalhava em um restaurante fast-food. Dois empregos, mais horas por dia e ele sentia que o tempo inteiro estava sempre a um passo de precisar de empréstimos.

O que mais preocupava a família era não terem plano de saúde. O restaurante oferecia plano médico, mas só para o funcionário. Ele teria de pagar o custo de cobertura para o resto da família. Só que, francamente, eles não tinham condições econômicas para poder pagar por isso. Além de tudo, eles ainda estavam tentando terminar de pagar uma conta de hospital de alguns meses antes, quando Tommy teve um ataque de asma sério e precisou de tratamento respiratório intensivo.

Assim, os pais decidiram tentar ficar saudáveis tanto quanto possível. Eles foram pegos bem no meio: pobres demais para plano de saúde particular, ricos demais para serem atendidos pelo sistema de saúde pública.

Era em ocasiões assim que a mãe de Tommy sentia arrependimento por não ter amamentado, porque ela ouviu dizer que poderia ter ajudado Tommy a ser mais saudável. O primeiro ataque de asma aconteceu quando ele tinha só 3 anos. A família toda ficou assustada, mas a respiração de Tommy melhorou com a primeira injeção que foi dada no pronto atendimento local. As visitas de acompanhamento com o clínico geral foram muito positivas. Eles ficaram sabendo a respeito da asma, como lidar com a doença, o que fazer para evitar ataques, e o que fazer quando o chiado começasse.

O pai de Tommy conseguiu parar de fumar, a mãe tinha todo o cuidado para trocar de roupa antes de ir para casa, por medo de que perfumes e produtos químicos poderiam estar nos produtos para cabelo que ela usava no trabalho. Eles se mudaram para um apartamento em um prédio mais novo. O aluguel era mais alto, mas havia menos preocupação com o mofo, o que é mais comum em prédios mais antigos. Tommy ainda sofria ataques ocasionalmente, mas na maior parte do tempo sua asma estava sob controle.

Pelo menos foi assim até que seu pai perdeu o emprego na fábrica de automóveis, quando então o pai ficou rabugento e cansado, e sua mãe nervosa e irritável. Os ataques de asma aumentaram, em frequência e em intensidade. Eles não podiam mais pagar as consultas com o pediatra particular e começaram a buscar ajuda em diferentes clínicas comunitárias e prontos-socorros. Rostos diferentes, estilos de tratamento diferentes. Alguns funcionários da saúde eram atenciosos, outros eram ruins e xingavam os pais de Tommy por uma coisa ou outra. Como aconteceu quando eles tiveram de esperar tanto tempo que a irmãzinha de Tommy começou a fazer birra. O funcionário gritou com a mãe de Tommy até que ela ficou prestes a chorar. Eles voltaram para casa tão esgotados que juraram nunca mais voltar àquela clínica. Quando havia um novo ataque de asma, eles tentavam controlar em casa o máximo possível. Mas nem sempre isso podia ser feito.

A vida começou a ficar difícil para todos. Gritaria, xingamentos, choro, a mãe e o pai trabalhando tanto, tão pouca comida na mesa, sem idas ao McDonald's, sem passeios ao shopping. Os pais não conseguiam mais pagar o aluguel alto e tiveram de mudar-se para um apartamento em um porão, o qual pertencia à chefe da mãe. A umidade e o mofo não fizeram nada bem ao Tommy. Nem a fumaça azeda dos cigarros do Sr. J, que tinha voltado a fumar, e fumar muito. Não só isso, mas o apartamento ficava ao lado de um terreno contaminado em uma comunidade com muitas fábricas. Muitas vezes o ar ficava com uma fumaça escura.

Talvez fosse a comida que Tommy vinha comendo que estava causando problemas. Com a casa em tumulto e com tão pouco dinheiro, ficava difícil manter controle da nutrição e da dieta. O banco de alimentos ajudava, mas haviam dito à mãe que não servisse tanta comida industrializada. Mas quem consegue comprar frutas e verduras frescas, galinha ou peixe? Tommy tinha tido alguns períodos de chiado, e toda sua medicação já tinha acabado. Os pais estavam esperando receber o próximo salário para comprar os medicamentos de que Tommy necessitava.

Quando começou o ataque de asma, era à tardinha, e Tommy e Ann, a irmã menor, estavam em casa sozinhos. A mãe estava trabalhando a alguns quarteirões dali, e o pai estava dirigindo o ônibus escolar. Ann correu para a casa de vizinhos para ligar para sua mãe, que veio correndo para casa. Ela se sentiu impotente diante da situação.

Não havia nada em casa para dar para Tommy e ele estava lutando para conseguir respirar. A vizinha chamou o 911, e, graças a Deus, os paramédicos chegaram rapidamente. Eles atenderam Tommy, deram-lhe oxigênio e medicamentos, o estabilizaram e o levaram até o pronto-socorro mais próximo.

No hospital, Tommy foi examinado. Sua respiração estava mais calma, mas ele precisava ser internado. O hospital, porém, não podia aceitar interná-lo, porque a família não tinha plano médico. Tommy foi transferido para o hospital municipal. A caminho desse hospital, Tommy sofreu mais um ataque sério que não pôde ser revertido. Ele faleceu logo após chegar ao hospital público.

"Tommy's Story," cortesia da Health Organizing Through Popular Education (H.O.P.E.), Chicago, 1996. em Kaba, Mathew e Haines, Something Is Wrong Curriculum, pp. 70–73.

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RODADAS DO PROCESSO:

1ª Rodada: Passe o objeto da palavra e peça que compartilhem o que escreveram, lendo ou comentando sobre o que pensam.

2ª Rodada: Passe o objeto da palavra para perguntar aos participantes o que eles estão levando do Círculo de hoje.

🙏Check-out

Check-out: Aprendizados para Levar

O que você pode levar desse Círculo?

🙌Fechamento

Encerramento

Agradeça a todos por terem participado do Círculo!


Impresso de: https://cnv.emrede.social/roteiro-circulo/6-18-explorando-o-impacto-da-desigualdade-social/

Data da Impressão: 07/12/2025 11:56