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Roda da Corresponsabilidade

Exercitar a empatia e a humildade, ao nos reconhecermos com o outro nos conflitos, percebendo que podemos tomar parte no problema com eles, reconhecendo que nossas ações interferem na realidade coletiva.

⏱️120 minutos
👥8-12 pessoas

📦Materiais Necessários

Girafinha (ou objeto da palavra), flipchart ou quadro branco para anotar as perguntas norteadoras (opcional), cópias físicas ou digitais do livro 'Por Trás dos Rótulos', lista com os 60 rótulos do livro, papéis e canetas ou lápis para uso dos participantes. Para rodas virtuais: slides com as perguntas norteadoras, slide com a tabela de rótulos para compartilhar na tela e link para baixar o livro 'Por Trás dos Rótulos'. Os participantes devem providenciar papel e caneta ou lápis para notações ou aplicativo de anotações, se preferir.

☑️Objetivo

Identificar os valores centrais dos participantes a fim de criar conscientização e reconhecimento do seu verdadeiro eu, estabelecendo um conjunto de valores compartilhados para o grupo.

🔔Abertura

Mais do que eu Gosto de Ver

Dicas para o Facilitador:

Leia o poema pausadamente, dando ênfase às reflexões sobre motivações e dores. Permita um momento de silêncio após a leitura para que os participantes processem as reflexões. Este poema prepara o terreno para as atividades sobre rótulos e corresponsabilidade.

Leia o seguinte poema:

Se chamo alguém de Burro,
Geralmente, gostaria que o outro se esforçasse mais
para compreender o que é importante para mim.
Mas, que motivação ele tem para se esforçar mais?
E que motivação eu provoco nele quando o chamo assim?

Além disso, tem uma dor em mim que não gosto de ver.
É que, se chamo alguém de Burro,
Estou com dificuldade de reconhecer
Que a minha forma de ensinar ainda não o ajuda a aprender.

Se chamo alguém de Mentiroso,
Geralmente, gostaria que o outro fosse mais autêntico
e falasse a verdade, com toda a sinceridade, para mim.
Mas, que motivação ele tem para ser mais sincero?
E que motivação eu provoco nele quando o chamo assim?

Além disso, tem uma dor em mim que não gosto de ver.
É que, se chamo alguém de Mentiroso,
Estou com dificuldade de reconhecer que ele pode achar que está em perigo
Porque a minha forma de acolher sua autenticidade ainda não o ajuda
a confiar que ele estará seguro se for verdadeiro comigo.

Se chamo alguém de Carente,
Geralmente, gostaria que o outro ficasse satisfeito e contente
com a atenção que eu consigo dedicar a ele no presente.
Mas, se ele demonstra tristeza e desejo de carinho como eu reajo?
Será que eu desejaria que ele escondesse a forma como se sente?

Além disso, tem uma dor em mim que não gosto de ver.
É que, se chamo alguém de Carente,
Estou com dificuldade de tolerar o que o outro está a demonstrar
Que o meu carinho e disponibilidade ainda não são o suficiente...
Mas, tentar calar seu sofrimento não irá mudar o que ele sente!
Apenas servirá para que EU não descubra que posso não estar sendo eficiente.
E eu detesto pensar que posso não estar sendo suficiente
Para alguém que eu amo e desejo que ver satisfeito e contente.

Se chamo alguém de Controlador,
Geralmente, gostaria que o outro levasse mais em consideração
Minhas necessidades e escolhas em sua decisão.
Mas, que sentimentos ele tem para não considerar mais a mim?
E que sentimentos eu provoco nele quando o chamo assim?

Já sei! Tem uma dor em mim que não gosto de ver.
É que, se chamo alguém de Controlador,
Estou com dificuldade de reconhecer
Que se quero que o outro me leve mais em consideração,
Preciso ajudá-lo a ter mais segurança
de que minhas escolhas vão cuidar das suas necessidades.
Porém, quando eu o culpo por não me incluir,
fortaleço para ele a visão de que me oponho às suas prioridades
E não percebo que para mim também é difícil vivenciar a vulnerabilidade.
A mesma vulnerabilidade que ele teme encontrar ao oferecer a mim a responsabilidade
de garantir que todos terão levadas em consideração as suas necessidades.

Se chamo alguém de Violento,
Geralmente, gostaria que o outro respeitasse meus limites e cuidasse mais de mim.
Mas, que motivação ele tem para ser mais cuidadoso?
E que motivação eu provoco nele quando o chamo assim?

Além disso, tem mais essa dor em mim que não gosto de ver.
É que, se chamo alguém de Violento,
Estou com dificuldade de reconhecer
Que a minha forma de ensiná-lo a ser pacífico ainda não é eficiente.
E, muito provavelmente, eu ainda tenho muito a aprender
E, talvez, ele tem mais a me ensinar do que eu gosto de ver.

– Bruno Goulart de Oliveira

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🤝Check-in

Check-in: Como você está hoje?

Dicas para o Facilitador:

Seja o primeiro a se apresentar, dando o exemplo. Esta abordagem em três partes serve múltiplos propósitos: primeiro, a pergunta sobre como a pessoa está permite que ela se conecte com seu estado emocional atual. Segundo, ao compartilhar uma qualidade ou elogio que recebe, a pessoa se conecta com a experiência de ser rotulada positivamente. Terceiro, ao compartilhar um defeito ou crítica, ela se conecta com a experiência de ser rotulada negativamente. Esta estrutura prepara o terreno para as reflexões mais profundas que virão sobre rótulos e julgamentos.

Rodada de Check-in

Duração: 10 min; ± 1 min por pessoa.

Você ou o outro facilitador (se houver) inicia respondendo:

Proposta: Diga como você está hoje e compartilhe uma qualidade ou elogio e um defeito ou crítica que as pessoas (ou você mesmo) atribuem a você.

Sugerimos que o facilitador, nessa rodada, seja o primeiro a falar.

⭐Atividade Principal 1

Atividade com o livro Por Trás dos Rótulos

Dicas para o Facilitador:

Mantenha o foco na identificação de rótulos e na reflexão sobre motivações. Encoraje a leitura das seções do livro para aprofundar a compreensão. Permita que os participantes processem suas reflexões sobre as motivações por trás dos rótulos. Crie espaço para compartilhamentos genuínos sobre como foi a experiência de ler as seções do livro. Lembre que o objetivo é exercitar a empatia tanto para quem rotula quanto para quem é rotulado.

Introdução à Atividade

Duração: 25 min.

Essa atividade utilizará o livro "Por Trás dos Rótulos", que pode ser comprado no site ou baixado livremente por contribuição livre na página: https://cnv.emrede.social/livro-por-tras-dos-rotulos/

Instruções para o facilitador:

  • Presencial: Distribua cópias impressas da lista de rótulos (tabela abaixo) para cada participante ou grupo.
  • Remoto: Compartilhe a lista de rótulos em um slide na tela para que todos possam visualizar.

O facilitador orientará as pessoas a seguirem os tópicos seguintes:

1. Escolha uma pessoa com quem você tem conflitos. (±1 minuto)

2. Identifique na lista de rótulos a seguir (disponível na página 14 do livro "Por Trás dos Rótulos") um rótulo que você considere que descreva os padrões de comportamentos da pessoa escolhida. (±4 minutos)

Lista de Rótulos - Para uso na atividade:

Nota: Esta tabela contém 60 rótulos organizados em 15 linhas com 4 colunas cada. No contexto presencial, pode ser impressa e distribuída aos participantes. No contexto remoto, pode ser apresentada como slide ou compartilhada na tela.

A medida que as pessoas vão escolhendo os rótulos, elas são convidadas a ler a seção do livro "Por Trás dos Rótulos" "Motivações para Rotular" e "Perguntas Empáticas" referentes ao rótulo escolhido. A leitura poderá ser feita individualmente ou com o grupo. Em seguida, serão compartilhados na roda como foi para cada um a leitura feita. Poderão ainda ser divididos grupos para que se faça a leitura e os comentários, conforme o andamento, o número de participantes e o tempo disponível.

A primeira seção "Motivações para Rotular" aborda a empatia em relação a quem está rotulando, enquanto a segunda "Perguntas Empáticas" aborda a empatia em relação a quem está sendo rotulado.

Fundamento da atividade:

Esta atividade utiliza o livro "Por Trás dos Rótulos" para exercitar a empatia de um modo diferente do padrão. Embora a CNV tradicionalmente sugira evitar julgamentos e rótulos, reconhecemos que nossa mente, cultura e capacidade de dar significado às coisas naturalmente utiliza rótulos como ferramentas de comunicação.

O exercício começa convidando cada participante a identificar uma relação conflituosa em sua vida. Aqui, conflito vai muito além de discussões ou agressões - inclui qualquer mal-estar ou pensamento de descontentamento em relação ao outro. Quando achamos que alguém "não tem consideração por nós" ou que "está em errado em agir assim", já estamos diante de um conflito.

Com essa relação em mente, cada pessoa escolhe um rótulo da lista que melhor descreve os padrões comportamentais da pessoa escolhida. Se algum participante quiser escolher múltiplos rótulos, podemos permitir. Em nossa experiência, já ocorreu de algumas pessoas começarem lendo um rótulo e em seguida serem direcionadas a outro durante a leitura e acabarem ampliando a reflexão.

As seções do livro "Motivações para Rotular" e "Perguntas Empáticas"

Cada rótulo no livro apresenta duas seções complementares (dentre outras) que trabalham juntas para transformar nossa perspectiva. A primeira, "Motivações para Rotular", oferece empatia para quem rotula, revelando as motivações positivas por trás do julgamento. A segunda seção, "Perguntas Empáticas", é onde podemos sair da culpabilização. Ela nos convida a assumir responsabilidade por nossos sentimentos e rótulos através de perguntas que nos direcionam para dentro.

Essas perguntas nos levam a um mergulho profundo em nós mesmos, revelando que nossos conflitos falam muito mais sobre nossa própria realidade do que sobre a pessoa que rotulamos. O objetivo é ir além dos rótulos e perceber o quanto é difícil para todos nós atendermos as diferentes necessidades que temos, criando uma ponte de compreensão e reconhecendo que ao mudar o nosso modo de pensar sobre o outro, podemos resolver internamente nossos conflitos e desenvolver compaixão e abrir espaço para a criatividade na solução dos problemas.

⭐Atividade Principal 2

Tomar Parte do Problema

Dicas para o Facilitador:

Este exercício pode ser desafiador, pois nos convida a sair da posição de vítima e reconhecer nossa participação nos problemas. Encoraje a reflexão profunda sobre como fazemos parte das situações conflituosas. Lembre que não se trata de culpa, mas de reconhecimento da corresponsabilidade. Permita que os participantes processem suas reflexões sobre vulnerabilidade e humildade nas relações. Crie um ambiente seguro para compartilhamentos sobre limites e capacidades de dar suporte ao outro. Na parte de compartilhamento, seja o primeiro a compartilhar suas reflexões, dando o exemplo. Mantenha o tempo de cada apresentação (aproximadamente 2 minutos). Após cada apresentação, faça um breve agradecimento ou reconhecimento. Se houver tempo, abra para comentários ou reflexões coletivas. Encoraje a participação, mas respeite quem não quiser compartilhar. Lembre que o objetivo é ver diferentes perspectivas sobre a corresponsabilidade e desenvolver a consciência de que todos dependemos uns dos outros para nos tornarmos pessoas melhores.

PARTE 1: REFLEXÃO INDIVIDUAL

Apresentação do exercício:

Duração: 35 min.

Nas rodas anteriores, reconhecemos através da nossa interdependência que as pessoas com as quais entramos em conflitos estão ligadas a nós. Agora, vamos pensar em como podemos tomar parte nos problemas que nos afetam, assumindo o nosso poder de ação para a transformação social. A consciência da interdependência ajuda a resolver os conflitos, que surgem quando há uma deconexão profunda entre as partes. Mas, podemos dar um passo a mais e reconhecer a nossa corresponsabilidade para superar os problemas que deram origem ao conflito.

Na CNV são sugeridas várias ``regrinhas'' para tentarmos manifestar um tipo de vulnerabilidade e reconhecimento do poder das pessoas conosco nas situações. Por exemplo, tentamos observar (sem avaliar), compartilhar nossos sentimentos (sem culpar), relacioná-los às nossas necessidades (sem confundi-las com estratégias) e fazer pedidos claros (sem impor). Mas, quando focamos nas regras, podemos não estar conscientes do tipo de pensamento que precisamos ter em relação as pessoas e esse exercício ajuda muito a entendermos que: viver a CNV é estar com o outro (no problema, no conflito, na restauração e nas soluções).

Para exercitar a consciência de que estamos com o outro, precisamos pensar em como fazemos parte do problema.

Exemplos de transformação da linguagem:

Em vez de dizermos:

``Minha necessidade de respeito não é atendida.''
(que pode subentender que o outro não está nos respeitando)

Podemos dizer:

``Reconheço que ainda não encontrei uma forma de te ajudar a ter mais clareza sobre como desejo que você aja e fale comigo para eu saber que estou sendo respeitado na relação.''

No segundo caso, reconhecemos que, se desejamos respeito, precisamos auxiliar o outro a nos respeitar, indicando como queremos que ele interaja conosco.

Outro exemplo: Quando entendemos que a pessoa está desconfiada e agindo ``na defensiva conosco'', por mais que possamos achar injusto, precisamos nos perguntar:

``De que forma eu consigo deixar mais claro para o outro que eu me importo com ele e que minhas atitudes também levarão em consideração suas necessidades.''

Ou ainda: Se achar que a pessoa está escondendo algo de mim, posso me perguntar:

``Como posso ajudar essa pessoa a perceber que ela estará segura se me falar a verdade e que eu não irei deixar de valorizá-la se ela for verdadeira comigo?''

É claro que esse exercício também irá nos convidar a identificar quais são nossos limites na capacidade de dar suporte ao outro para que ele seja melhor comigo. Será que realmente conseguirei acolher suas falhas? (Acolho as minhas?) Será que realmente estou considerando suas necessidades? (Concilio com as minhas?) Será que o respeito também?

Por isso, esse exercício pode ser desafiador. Mas, se conseguirmos fazê-lo poderemos compreender melhor as pessoas, reconhecer nossos limites e ter mais humildade nas relações.


Para isso, seguiremos 3 passos (±10 minutos):

  1. Identificar uma situação conflituosa com outra pessoa. (Nesse caso, o conflito é entendido não apenas como uma situação de discussão, briga, etc, mas como um movimento interno de insatisfação perante alguma situação, mesmo que você não tenha tomado parte diretamente nela.)
  2. O que eu e o outro queremos cuidar nessa situação. (Qual necessidade estou tentando atender nessa situação? E o outro? Queremos nos conectar com respeito em relação às nossas falhas ou as situações em que não conseguimos ser perfeitos. Por isso, é importante essa etapa para nosso autocuidado e não nos culpabilizarmos na tentativa de compreender o outro.)
  3. De que forma eu participo dessa situação?
    Por exemplo:
    - De que forma estou criando obstáculos?
    - O que pode estar faltando na minha atitude para ela agir melhor?
    - Que outra prioridade a pessoa está tendo e eu posso não estar enxergando?
    - O que falta ela aprender e como eu posso ajudar?
    - O que falta eu aprender para ajudá-la a cuidar mais de mim?

PARTE 2: COMPARTILHAMENTO DAS REFLEXÕES

Partilha das Reflexões

Duração: 20 min; ± 2 min por pessoa.

Depois que foi dado tempo para as pessoas anotarem suas reflexões sobre os 3 passos da atividade anterior, será feita uma rodada de apresentação das respostas. A apresentação é voluntária, mas sugerimos que o facilitador comece para dar o exemplo.

Instruções para o facilitador:

'Agora vamos compartilhar nossas reflexões. Cada pessoa que quiser compartilhar terá aproximadamente 2 minutos para ler suas respostas para as 3 perguntas. Não é necessário comentar ou explicar muito - apenas ler o que escreveu. Isso nos ajudará a ver diferentes perspectivas sobre a corresponsabilidade.'

Orientações importantes:

  • Incentive a participação, mas respeite quem não quiser compartilhar
  • Mantenha o tempo de cada apresentação (aproximadamente 2 minutos)
  • Após cada apresentação, pode fazer um breve agradecimento ou reconhecimento
  • Se houver tempo, pode abrir para comentários ou reflexões coletivas

FUNDAMENTO DA ATIVIDADE

O exercício "Tomar Parte do Problema" é uma das práticas mais profundas da metodologia CNV em Rodas. Ele nos convida a reconhecer que, quando temos conflitos, geralmente também participamos do problema. Não se trata de culpa, mas de reconhecer nossa responsabilidade e capacidade de contribuir para a transformação da situação.

A CNV oferece várias "regrinhas" para manifestar vulnerabilidade e reconhecimento do poder das pessoas conosco: observar (sem avaliar), compartilhar sentimentos (sem culpar), relacioná-los às necessidades (sem confundi-las com estratégias) e fazer pedidos claros (sem impor). Mas focar apenas nas regras pode nos distrair do tipo de pensamento que precisamos cultivar em relação às pessoas.

Este exercício nos revela que CNV é estar com o outro - no problema, no conflito, na restauração e nas soluções. Para exercitar essa consciência, precisamos refletir sobre como fazemos parte do problema.

A transformação da linguagem de culpa em responsabilidade

Este exercício promove uma transformação poderosa na linguagem. Em vez de "Minha necessidade de respeito não é atendida" (que sugere que o outro não nos respeita), podemos dizer: "Reconheço que ainda não encontrei uma forma de te ajudar a ter mais clareza sobre como desejo que você aja e fale comigo para eu saber que estou sendo respeitado na relação".

Nesta nova abordagem, reconhecemos que, se desejamos respeito, precisamos auxiliar o outro a nos respeitar, indicando como queremos que ele interaja conosco. Quando percebemos alguém agindo "na defensiva", por exemplo, em vez de achar injusto, nos perguntamos: "De que forma posso deixar mais claro que me importo com ele e que minhas atitudes também considerarão suas necessidades?"

Ou ainda, se suspeitamos que alguém está escondendo algo, podemos refletir: "Como posso ajudá-la a perceber que estará segura se me falar a verdade e que não deixarei de valorizá-la se ela for verdadeira comigo?"

A humildade como competência fundamental

Uma das principais aprendizagens desta roda é o desenvolvimento da humildade como competência fundamental da CNV. Esta humildade não é humilhação, mas o reconhecimento de que somos afetados pelas situações e que, para que o outro corresponda a nós, precisamos nos expor sem ser violentos.

Precisamos ser vulneráveis, porque a violência não promove educação. No máximo, promove defesa ou coerção que temporariamente pode corresponder às nossas expectativas, mas não será sustentável no longo prazo e não virá com a motivação e energia que desejamos. Pior ainda: provavelmente fará com que a pessoa comece a nos esconder coisas no futuro, pois ela perceberá que não conseguimos tolerar sua imperfeição.

É um desafio. Precisamos vivenciar nossa vulnerabilidade para acolher a imperfeição do outro e também reconhecer nossas imperfeições para criar relações de confiança e evitar o uso de recursos violentos para conseguir o que queremos.

A corresponsabilidade como prática transformadora

O exercício mais desafiador de empatia é reconhecer nossa própria impotência. Quando estou com raiva do outro, preciso encontrar uma impotência complementar minha - é quando tomo parte no problema com o outro.

Na roda anterior, exercitamos ser parte da solução: "O que a sociedade pode oferecer para essa pessoa? O que eu posso oferecer para que ela aja de forma mais sustentável?" Agora, queremos reconhecer que participamos do problema com a pessoa.

Se ela ainda tem dificuldades, ela precisa de educação, espaço para aflorar e desenvolver competências, suporte para crescer e segurança emocional - algo mais sutil e difícil de concretizar, mas essencial para seu desenvolvimento.

Em todas essas situações, percebemos que estamos com as pessoas nos problemas. E quando fazemos esse exercício, respiramos e percebemos: Culpar o outro não resolve.

A diferença entre parar de culpar e se conformar

É fundamental esclarecer que parar de culpar as pessoas não significa se conformar, concordar ou se submeter ao que ela quer. Parar de culpar significa não desumanizá-las mais, não "monstrualizá-las". Simplesmente perceber que há um ser humano ali.

Às vezes, ao perceber que há um ser humano ali e ver todas as condições necessárias para que ele floresça em suas competências e respeito, posso concluir que não tenho estrutura no momento para dar esse suporte. Posso me afastar ou deixar que a pessoa resolva o problema sozinha.

Posso também perceber que, se quero que ela melhore e quero manter a relação, preciso ajudá-la - porque reclamar não resolve.

O leque de escolhas para além do reclamar e culpar é muito amplo. Mas requer que me responsabilize com o outro, o que pode trazer uma espécie de luto: perceber que ainda não conseguimos ajudar essa pessoa a florescer como gostaríamos, a desenvolver as competências que consideramos preciosas e importantes para nossa relação.

Esta prática nos desenvolve a consciência de que todos dependemos uns dos outros para nos tornarmos pessoas melhores. Quando alguém se comporta de forma que nos incomoda, isso pode indicar que suas necessidades não estão sendo atendidas adequadamente. Como membros de uma sociedade, temos a oportunidade de criar condições para que todos possam atender suas necessidades de forma saudável.

Uma das principais aprendizagens desta roda é a transformação da culpabilização em compaixão. Em vez de culpar os outros por seus comportamentos, somos convidados a reconhecer nossa interdependência e pensar em como mudar, enquanto sociedade, para que as pessoas tenham mais apoio para atenderem suas necessidades de um modo equilibrado e sustentável, sem prejuízos para o coletivo.

🙏Check-out

Check-out: Como você está ao sair desta roda?

Dicas para o Facilitador:

Seja o último a se manifestar. Esta abordagem em duas partes serve propósitos complementares: primeiro, a pergunta sobre como a pessoa está ao sair permite que ela se conecte com seu estado emocional após todo o processo de reflexão sobre rótulos e julgamentos. Segundo, ao identificar uma habilidade que foi exercitada, a pessoa reconhece ativamente seu desenvolvimento e as capacidades que foram fortalecidas durante a roda. Esta estrutura é especialmente significativa porque diferencia claramente habilidades de rótulos (que foi utilizado no 'Check-in'). Não estamos perguntando 'o que a pessoa é' ou 'o que ela tem' (ambas são perguntas estáticas), mas quais atributos dela foram fortalecidos através da prática. Esta distinção é fundamental na CNV: em vez de nos fixarmos em identidades fixas ou julgamentos sobre quem somos, focamos nas capacidades que podemos desenvolver e exercitar.

Rodada de Check-out

Duração: 5 min; ±30 segundos por pessoa.

Proposta de check-out: Diga como você está ao sair desta roda e uma habilidade que você acha que exercitou hoje.

Sugerimos que o facilitador seja o último a se manifestar.

🙌Fechamento

Amai Vossos Sofrimentos

Dicas para o Facilitador:

Leia o poema pausadamente, dando ênfase às reflexões sobre amar os sofrimentos e desenvolver autocompaixão. Permita um momento de silêncio após a leitura antes dos agradecimentos finais. Este poema engloba diversos aspectos trabalhados na roda e termina concluindo sobre a necessidade de acolhermos nossa vulnerabilidade. O poema nos convida a refletir sobre como podemos amar nossos inimigos através do desenvolvimento da autocompaixão e do reconhecimento de nossa imperfeição.

Em um círculo é sempre importante marcar o final desse espaço intencional.

Leitura de Bruno Goulart de Oliveira:

Uma vez, Jesus orientou: ``Amai vossos inimigos''.
Acho que se fizermos isso, os veremos como amigos!

Mas, essa é uma tarefa de difícil cumprimento,
quando ainda não sabemos ``amar nossos sofrimentos''.

``Amar meu sofrimento'' não é o mesmo que me agarrar a ele.
Logo, se ele surge, não quero me apegar, nem fugir dele.

Há quem compete para ver quem tem o maior sofrimento.
E há quem colecione mágoas e fala da dor a todo o momento.

Já, eu, quero amar meu sofrimento, entendendo sua função,
Aceitando a minha realidade e me abrindo para a evolução.

Eu amo meus sofrimentos, quando acolho minha dificuldade,
Agradeço por ver que não sou perfeito e exercito a humildade.

Aceitar minhas falhas não é ser complacente nem me conformar.
Pois, eu posso melhorar sem precisar me punir por falhar.

Eu prefiro aprender sobre a vida sem as lições da ``professora dor''.
Mas, ela se recusa a ir embora se eu não tratá-la com amor.

Se finjo que sofrimento não existe, posso até me enganar.
E acabo me tornando alguém frio, difícil de se relacionar.

Diante da frieza, há quem desista de manter a relação.
Mas, quem permanece nela desenvolve uma ``compensação''.

Para compensar nossa frieza, as pessoas exaltam suas emoções,
Gritam e discutem para que possam ser ouvidas em suas aflições.

Quem é hábil em ignorar sofrimentos pode até ficar em silêncio.
Mas, não se engane… Silêncio sem presença não é acolhimento!

Então, de algum jeito, a vida irá nos convidar a amar o sofrimento!
Porque quem não sabe amá-lo, não demonstra entendimento.

Se quer amar seus inimigos, ame a si quando for imperfeito.
Sendo grato pelos seus sofrimentos, acolhendo seus defeitos.

Se for difícil se amar, tente ao menos se respeitar ou se tolerar.
Quando fracassar em algo, evite se culpar ou se condenar.

Assim, quando você for capaz de se amar sabendo não ser perfeito,
Verá que o outro não precisa deixar de ser quem é, para ser aceito.

Cuidado para não confundir autoestima com superioridade!
Se achar que o erro do outro é pior, está faltando humildade.

Se culpar alguém por não te entender, precisará se examinar.
É provável que você não enxergue sua dificuldade em ensinar.

Se culpar alguém por te mentir, também precisará se entender.
Será que você tem conseguido escutar o outro sem se ofender?

Quando só culpamos o outro em vez de olhá-lo com compaixão,
Há uma ferida em nós que não estamos dando atenção.

Amai vossos sofrimentos: para que possa amar a sua realidade.
Amai vossos sofrimentos: para que seu autoamor não seja vaidade.

Empatia, compaixão e valorização da experiência vivida.
São ingredientes essenciais para cuidarmos mais da vida.

Se queres, um dia, ser capaz de amar seus inimigos,
Abrace os seus sofrimentos e seja o seu melhor amigo!

– Bruno Goulart de Oliveira

🔗 Clique aqui para abrir o poema no navegador.

Agradeça a todos por terem vindo e participado do círculo.


Impresso de: https://cnv.emrede.social/roteiro-circulo/roda-da-corresponsabilidade/

Data da Impressão: 23/11/2025 22:07