Mais do que eu Gosto de Ver – Bruno Goulart de Oliveira

Poema Mais do que eu Gosto de Ver – por Bruno Goulart de Oliveira

Se chamo alguém de Burro,
Geralmente, gostaria que o outro se esforçasse mais
para compreender o que é importante para mim.
Mas, que motivação ele tem para se esforçar mais?
E que motivação eu provoco nele quando o chamo assim?

Além disso, tem uma dor em mim que não gosto de ver.
É que, se chamo alguém de Burro,
Estou com dificuldade de reconhecer
Que a minha forma de ensinar ainda não o ajuda a aprender.

Se chamo alguém de Mentiroso,
Geralmente, gostaria que o outro fosse mais autêntico
e falasse a verdade, com toda a sinceridade, para mim.
Mas, que motivação ele tem para ser mais sincero?
E que motivação eu provoco nele quando o chamo assim?

Além disso, tem uma dor em mim que não gosto de ver.
É que, se chamo alguém de Mentiroso,
Estou com dificuldade de reconhecer que ele pode achar que está em perigo
Por que a minha forma de acolher sua autenticidade ainda não o ajuda
a confiar que ele estará seguro se for verdadeiro comigo.

Se chamo alguém de Carente,
Geralmente, gostaria que o outro ficasse satisfeito e contente
com a atenção que eu consigo dedicar a ele no presente.
Mas, se ele demonstra tristeza e desejo de carinho como eu reajo?
Será que eu desejaria que ele escondesse a forma como se sente?

Além disso, tem uma dor em mim que não gosto de ver.
É que, se chamo alguém de Carente,
Estou com dificuldade de tolerar o que o outro está a demonstrar
Que o meu carinho e disponibilidade ainda não são o suficiente…
Mas, tentar calar seu sofrimento não irá mudar o que ele sente!
Apenas servirá para que EU não descubra que posso não estar sendo eficiente.
E eu detesto pensar que posso não estar sendo suficiente
Para alguém que eu amo e desejo ver satisfeito e contente.

Se chamo alguém de Controlador,
Geralmente, gostaria que o outro levasse mais em consideração
Minhas necessidades e escolhas em sua decisão.
Mas, que sentimentos ele tem para não considerar mais a mim?
E que sentimentos eu provoco nele quando o chamo assim?

Já sei! Tem uma dor em mim que não gosto de ver.
É que, se chamo alguém de Controlador,
Estou com dificuldade de reconhecer
Que se quero que o outro me leve mais em consideração,
Preciso ajuda-lo a ter mais segurança
    de que minhas escolhas vão cuidar das suas necessidades.
Porém, quando eu o culpo por não me incluir,
    fortaleço para ele a visão de que me oponho às suas prioridades
E não percebo que para mim também é difícil vivenciar a vulnerabilidade.
A mesma vulnerabilidade que ele teme encontrar ao oferecer a mim a responsabilidade
    de garantir que todos (inclusive ele) terão levadas em consideração as suas necessidades.

Se chamo alguém de Violento,
Geralmente, gostaria que o outro respeitasse meus limites e cuidasse mais de mim.
Mas, que motivação ele tem para ser mais cuidadoso?
E que motivação eu provoco nele quando o chamo assim?

Além disso, tem mais essa dor em mim que não gosto de ver.
É que, se chamo alguém de Violento,
Estou com dificuldade de reconhecer
Que a minha forma de ensiná-lo a ser pacífico ainda não é eficiente.
E, muito provavelmente, eu ainda tenho muito a aprender
E, talvez, ele tem mais a me ensinar do que eu gosto de ver.

– Bruno Goulart de Oliveira

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